"Longetude"



À primeira vista, "Longetude" pode parecer apenas um trocadilho bobo e pouco criativo a partir da palavra longitude. Palavra esta captada isoladamente pelo meu cérebro, enquanto eu pensava na vida com a TV ligada.

A palavra que interrompeu meus pensamentos naquele instante adquiriu um significado especial e se transformou imediatamente numa expressão que encapsula a sensação de sentir-se "longe de tudo". 

É como sentir-se em um ponto distante da própria existência, observando a vida passar como um espectador, afastado do seu propósito, dos seus amigos, dos seus sonhos, de seus potenciais e habilidades pessoais e, porque não dizer, de Deus também.

Isto me faz pensar que, assim como a verdadeira Longitude, a "Longetude" emocional também possa ser medida em graus, de forma que, quanto maior o grau em relação ao meridiano de referência (0 grau), maior a sensação de distanciamento.

Mas essa sensação ou condição, não é algo que acontece por acaso, que manda aviso, não é algo que você vê chegar ou pode simplesmente rejeitar. 

Invariavelmente, quando você perceber, se perceber, já estará vivendo em algum grau de "Longetude". Num distanciamento crescente e gradativo que surge especialmente como resposta à decepções sucessivas e significativas, traumas, estresse prolongado, depressão, ansiedade, burnout, entre outros. 

É uma forma involuntária de autopreservação, uma tentativa de evitar futuras desilusões.

Quando em meio à essa "Longetude", começamos a deixar de ser condutores de nossas vidas e nos sentimos como meros passageiros numa estrada de mão única, empurrados pela rotina, apenas olhando pelo espelho retrovisor enquanto os objetivos, sonhos, desejos e aspirações ficam mais distantes a cada dia, num processo de afastamento constante, cujo fim é o limite da impossibilidade. O horizonte inatingível.

O medo da dor causada pelas decepções pode evoluir para uma desconexão das próprias emoções, que vai limitar a capacidade de vivenciar plenamente as experiencias da vida. Esse medo pode levar também ao isolamento e acabar desenvolvendo uma sensação de solidão e dificuldade na manutenção e construção dos relacionamentos. Isto porque as decepções repetidas levam à perda da confiança, em si mesmo e nos outros, impactando diretamente a autoestima.

Este é um momento crítico pois, a autoestima abalada aumenta ainda mais o grau de "Longetude" e desenvolve de um ciclo de pessimismo onde a antecipação do pior cria uma mentalidade defensiva que limita a percepção de momentos positivos e de novas oportunidades, criando estagnação, paralisando sonhos e metas. É quando, finalmente, o desânimo e a desesperança se instalam e crescem, alimentados pelo sentimento de que as coisas nunca melhorarão, criando a equivocada crença de que nada mais faz sentido na vida. Uma distorção da visão de mundo e da percepção de realidade.

Mas há uma segunda palavra muito importante e que também precisa ser introduzida nesta conversa: 'CUIDADO'!

Cuidado com o que sua mente te diz!

Embora nada seja fácil em momentos como este, é fundamental entender a importância de lidar de maneira saudável com as decepções. A busca por apoio emocional, o desenvolvimento de resiliência e o autocuidado são ferramentas importantes, além do esforço constante e consciente para iniciar uma jornada de reaproximação com a plenitude das experiências, mesmo diante das incertezas e desafios.

Sem dúvida, a parte mais importante nessa jornada de volta ao 'grau 0', é a preservação de nossos princípios, nosso caráter e nossa natureza. Manter a integridade de nossa essência é crucial nesta difícil jornada de volta.

Preservar princípios e valores fundamentais significa permanecer fiel a si mesmo. Isso ajuda a manter uma base sólida de identidade e respeito próprio e estabelece limites para relacionamentos saudáveis. Relações verdadeiras se baseiam em confiança mútua. Elas são importantes em todas as fases da vida e ajudam a encurtar o caminho da superação da "Longetude" emocional.

Não quebre princípios! É o que precisa ecoar dentro de nós. A sensação de abatimento e abandono é verdadeira, mas isso não muda a cor do sangue. Ainda somos os mesmos.

Se reconectar com propósitos significativos, cultivar relações autênticas, redescobrir habilidades que nos fazem únicos e trazer os sonhos de volta à memória. São estes os próximos passos para sair de uma posição passiva de observador distante e participar ativamente da própria narrativa.

Mas tão importante quanto se manter fiel a princípios e a si mesmo, é cuidar também da espiritualidade. A fé num Deus bom e todo poderoso, que nos ama e que quer o melhor para cada um de nós, pode nos trazer conforto e consolo nos dias mais difíceis. Da mesma forma, podemos aprender que, através de Sua graça e misericórdia, encontraremos restauração e esperança de um futuro melhor. 

A bíblia diz: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos” (II Coríntios 4:7,8 e 9). 

Uma passagem que nos mostra que Deus manifesta Seu poder em nossa fraqueza, de forma que quaisquer que sejam os agentes ou causas de nosso sofrimento (humanos ou diabólicos), nós, os vasos de barro, somos capazes de suportar o choque e continuar de pé.

Então, assim como a verdadeira longitude pode ser explorada e mapeada, a "Longetude" emocional também pode ser navegada e superada. 

Reconhecer esse sentimento é o primeiro passo para uma reaproximação com aquilo que realmente importa. Reconstruindo pontes, encurtamos as distâncias que nos separam de nossa essência e fortalecemos a crença de que, por maiores que sejam os problemas e as decepções, por mais distantes que os sonhos pareçam ter ficado, sempre poderemos recuperar o tempo perdido e nos reconectarmos de forma mais plena à vida que desejamos viver.

Obrigado por ler até aqui!
Até a próxima! 

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