Me parece que, a cada dia que passa, tudo vai ficando um pouco mais complicado. E dizem que a tendência é ficar cada vez pior. Sorte sua não estar mais aqui. Certamente você está num lugar bem melhor.
Mas me diz uma coisa? Estava aqui pensando antes de te escrever. Realmente vale a pena passar por aqui, Claudião? Este tempo que passamos aqui, faz algum sentido? No final, faz alguma diferença saber o que é certo ou errado? Faz alguma diferença agir certo ou errado ? A gente aprende algo, evolui? De que vale essa existência? Como foi pra vc ? E o pessoal do banco de igreja, os repetidores de versículos? Estão se dando bem por aí?
Estou perguntando isso porque esta é mais uma madrugada daquelas em que a gente para e tenta entender o que está acontecendo, mas não demora a surgir muitas dúvidas e sentimentos bastante nocivos dominando os pensamentos e o coração.
Outras perguntas: o que a gente faz com a decepção? E com a traição daqueles que a gente nunca desejou mal? Como agir diante da falta de escrúpulos daqueles que agem em conluio pelas suas costas ? O que você faria, hein, Claudião ? Ah, como eu queria saber...
Você soube o que aconteceu hoje né, Claudião? Tenho certeza que sim. Mas, sério, eu não esperava...
Cá entre nós, você está orgulhoso? Não sei, mas se eu tivesse que apostar, eu diria que sim. Afinal, foi uma conquista importante.
Por falar em orgulho, se meu pai estiver aí perto, pergunta se ele está orgulhoso de mim. Se eu tivesse que apostar, diria que não. E eu entendo. Mas parte dessa culpa devo transferir pra ele também. Ele me ensinou muita coisa, mas não ensinou que certos desaforos não se leva pra casa. Custe o que custar. E isso é uma coisa que já me fez e continua fazendo muita falta. Especialmente em dias como este, sabe, Claudião?
"Procurando salvar-se do feroz animal, o viajante salta para dentro de um poço sem água; no fundo do poço, todavia, vê um dragão à sua espera. Sua boca está aberta para devorá-lo.
O infeliz viajante, não se atrevendo a sair do poço, com medo de ser devorado pelo animal, e não se balançando para não cair e transformar-se em comida de dragão, segura firme um maço de arbusto que cresce entre as frinchas do poço.
Suas mãos perdem as forças, e ele sente que logo será obrigado a entregar-se ao destino fatal. Pior ainda, agarrado ao arbusto, vê dois camundongos, um branco e outro preto, movimentando-se tranquilamente ao redor do galho a que ele se segura, roendo-lhe as raízes.
Ao ver isso, o peregrino reconhece que perecerá, inevitavelmente. Só que, enquanto está ali pendurado, olha à sua volta e se surpreende: as folhas do arbusto têm algumas gotas de mel. Sem fazer as contas do tempo que lhe resta antes de cair, o viajante as alcança com a língua, e lambe o mel, extasiado."
Olha Claudião, receio que esta seja nossa última conversa. Não o culpo por nada. Ao contrário, só tenho a agradecer, mas acho que o que me conectava a você nessas conversas não existe mais. Você tem todo o meu respeito e o meu desejo de que, esteja onde estiver, esteja sempre bem.
Da minha parte, vou procurar seguir em frente por aqui. Ainda não sei direito se consigo sair dessa situação com alguma dignidade ou apenas com a fama de trouxa mesmo. O tempo dirá.
Acho que por vc muitas vezes a maldade do mundo nos faz questionar nossas verdades e chegamos até a achar que é errado ser correto. Te digo que não é , orgulho do homem que vc é hoje e sempre
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